azul
a felicidade é uma tinta azul a escorrer na maresia. espalhada na luz do sol pôr, germina a terra em verdes brotos que são sua condição de inescapável fertilidade: fazer germinar, fazer acontecer, respigar a vénia da gratidão em sumptuosa explosão de pulsar vida. na escuridão da noite, impregna-se breu de tudo e em tudo - brilha por dentro, destapa o grito ao silêncio, alimenta-se, consome-se, consuma-se. no alvor da madrugada, estremece rosada, sorri, ronrona como um gato, enrola-se e enrosca-se, meiga e preguiçosa. e na travessia do dia pleno, desfaz-se em tons terra, perguntando-se, procurando-se, estendida em imensos braços, corpo esguio e frágil, decepado já. a felicidade tem hora marcada ao final do dia: ao encontro acorrem duas almas aflitas, feitas rios de tinta... azul.