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A mostrar mensagens de fevereiro, 2011

ensimesmados caminhos de precoce primavera

ensimesmados caminhos de precoce primavera. o sol esplêndido, perfeito. o mar imenso, gelado e calmo. os olhos de um vítreo cristal. avanço para ti. avanço para ti. não sou eu que avanço. é o sol. é o mar. é o vento. são eles que me empurram. silêncio. não posso falar. não posso dizer nada. não posso tocar-te. não posso querer-te. não posso. se eu falar, serão raízes a saber a terra húmida. se eu te tocar, a minha pele vai tardar no teu desejo. se eu acordar na tua noite, a luz vai trespassar o sonho e então... a claridade irá banhar todas as recônditas escusas desta caverna... e as sombras que nos vestem a alma desnudarão o que soubemos ocultar: esta inverosímil forma de chegar.

ode marinheira

a noite invade-me, enrosca-se no meu sentir, deposita-me no leito. no teu peito. ajeitei-me. desajeitadamente. não sei fazer como a noite. continuamos a olhar as estrelas, lado a lado. continuamos a passear de braço dado nos jardins. os dias adensam-se como antes de uma grande tempestade. mas a chuva não vem. tudo parece suspenso. é demais, o que se me passa por dentro. confio ao sono de uma noite bem dormida os problemas agudos de todos os que amo. se eu não existisse, o mundo continuaria a girar. este pensamento reconforta-me. quero chegar. mas não há comboio, nem sequer estação. nem mesmo paisagem. enrosco-me na noite, mais e mais. de dentro, sai um suspiro, meio lamento. reclamo o silêncio. mas há um rulhar líquido ao longe. o mar entra-me pelo quarto, feito onda cobertor. e leva-me. leva tudo. leva todos. lava o pó dos cantos, vaporiza nódoas e vincos, alisa-me a alma... com força, com calma... vou dar-te a mão a quem mais confio. vou fazer o caminho a teu lado, mas só até ao pont

Isabel Allende Conta Histórias de Paixão (nas TED Talks)

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O que é mais verdadeiro do que a verdade? A história. E o contador de histórias...

apenas

quando te vi pela primeira vez quis saber cantar assim: cantar e "apenas" estar cantar e "apenas" ser. porque expor a natureza de um sentir, assim, tão profundo é grande mister de amor, de quem toca a alma do mundo. estou encantada de ti apaziguada em ti porque me asseguras numa tanta inquietação que abre sulcos de vida em palavra e melodia do que não ousava canção. entre nós haverá tempo de ver crescer mil jardins: liberdade é uma semente posta na boca do vento carícia de deus aprendiz... gargalhadas de crianças gestos loquazes, subtis palavras, músicas, danças actos nobres, outros vis... tudo flores em tudo cores nossos olhos nossas mãos risos, dores que sensação! apenas estar... apenas ser... que vagueie, feliz, a semente! E até lá... Cantemos sempre!

doce

doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algodão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, algo tão doce, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, o vento soltou-se, a boca calou-se. a boca colou-se.o ventocolou-se

Belinda e Orlando

Belinda tinha cabelos de chuva que penteava nas tardes de aguaceiro. Mal assomava à janela, logo mil gotículas se formavam no vidro, caindo como doces gordas bailarinas bêbedas. Quando tomava banho, naturalmente ficava careca. Por isso, esse era um momento íntimo e especialmente prazenteiro. Adorava acariciar o crânio ermo e, fechada a torneira, sentir enfileirar-se as gotas de água, formando fios reluzentes de chuva suspensa. Quando chorava, os cabelos colavam-se aos olhos e penetravam as órbitas causando subtis choques eléctricos nas sinapses, o que lhe aliviava imediatamente a aflição. Belinda amava o mar. Mas devido a estas circunstâncias tão específicas da sua natureza, não podia pertencer-lhe. Uma vez, ainda criança, largara a mão da mãe, correndo da beira mar para um instintivo mergulho. Foi apanhada por uma onda e logo o seu cabelo se uniu àquela massa de água, puxando-a, empurrando-a, lançando-a para cima para depois a fazer mergulhar, rodopiando, até ao fundo. Apesar de tod

Coisas

há um sorriso que no vazio se perpetua. é de quando não se está ali, mas noutro lugar. gosto muito do teu abraço. gosto tanto! já pensei em mil maneiras, mas só há uma: ficar. e sabes que mais? não há mais. gostei tanto da luta corpo a corpo. fiquei exausta, vingada, feliz. dedico a maior parte do meu tempo a acreditar. vá, é sabido que nada perdura: tudo se perde, em nada se dura. uma coisa que me deixa feliz? crianças a comer guloseimas. felicidade? não é facilidade. não é a cidade. não vem com a idade. há-de. dor: rima com amor. tu e eu? dois barcos perdidos no mar. tu sempre a remar, sem sair do lugar. e eu a insistir, que outro barco há-de vir. uma coisa que detesto, é estar presente a uma pessoa que não está presente a si mesma. sou como o rio: transporto os grãos de areia da terra para o mar. primeiro, depressa. depois, com vagar.

Caivlan e a terra queimada

A terra queimada urgia revolta. E ele chegou, com o seu bastão negro, as sandálias carcomidas, os olhos plenos de luz. Suspirou, vagueou, virando restolhos com a ponta dos pés, apalpando o solo com o bastão. O sol estava alto, o céu limpo, nem uma nuvem, nem uma aragem. Acocorou-se, tomou na mão um pouco daquela terra, carbonizada, quente, sofrida. Cuspiu-lhe. Um broto jovem despertou da semente e espreguiçou-se verde na direcção do sol. Sorriu. " Caivlan, tu és preciso aqui! " Aquela voz dentro de si não permitia enganos. Ele sabia-o. Mas será que o queria? Olhou em seu redor. A desmedida planície estendia-se a toda a volta, de casas distinguia apenas uma ou outra ruína, e os esparsos arvoredos para lá da linha do fogo dobravam-se como juncos feridos e moles. " Ficar aqui? ". Logo a mente o assaltou em torrente, inundando o seu espírito de milhares de perguntas, traçando matrizes multidimensionais de probabilidades, coroadas pelo pior e pelo melhor que conseguia