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A mostrar mensagens de junho, 2009

registo científico de um ensaio

Salto para o teu colo! Ou agarro-te eu ao colo. Há uma breve troca de olhares, pelos cantos seguimos os demais, «onde está o gato?», claro que ninguém quer ser apanhado, mas se o dia foi puxado talvez desista a sorrir e me deixe apanhar, só para que me belisques com força e eu acorde neste aqui. Na roda das torções, reflicto em como os carrascos devem ter estudado tudo isto, na concepção dos seus engenhos de tortura por desmembramento. Comovemo-nos com um abnegado estudo de um qualquer processo, sem todavia conhecer o intuito que move o seu sujeito. E o corpo ondula já, em natural e inversa; para arrancar movimento às faiscantes sinapses (e acender a sapiência física presa no bloco cerebral) convocara as minhas secretas mnemónicas, respectivamente, «queda no abismo» e «caganita de pássaro»; a coisa pega logo e eu rejubilo por conhecer minimamente o meu quinto império (a minha quinta parte física que se localiza do pescoço para cima) e conseguir truqueá-lo... O corpo festeja a massagem

a cópula incauta

Ana Maria caminhava apressada, numa tensão nervosa que crescia à medida que se aproximava do laboratório. Do outro lado da porta, as leveduras aguardavam-na... Tinham estado todo o fim-de-semana em frenética cópula, mas ELA não tinha vindo... Prometera-lhes mundos e fundos, a ingrata, «far-vos-ei um digno portfólio!», dissera sorrindo enquanto barrava o agar, «as melhores de vós estarão na nature!», garantira com afagos enquanto fechava as caixas de petri... Bah! Horas e horas de esforço, de tudo fazendo para que à meia noite, quando Ana Maria chegasse ao laboratório, as pudesse confirmar, numerosas e belas, numa perfeita composição de lustrosos bolbos de amarelo desmaio... E NADA! Ana Maria abriu a porta e um grito imenso lhe percorreu as entranhas. Todo o laboratório estava envolto numa grossa pasta amarelo vómito. A cientista escorregou na pegajosa pasta e caiu prostrada no chão. Ao ver o tecto coberto de bolbos disformes daquela pasta, balbuciou «perdoem-me! por favor perdoem-me! E

Os bufões de santa maria

Deformaram-se os corpos, como puderam, num silêncio absorto, numa auto-escultura feita de bossas e fossas, multilações e extensões, desvios e torções. Ousaram então caminhar, esses corpos, humanos e naturais, depois de feros. Por fim pontuaram-lhes alma em vibrações, sonoridades orgânicas. Treparam por si mesmos a dentro, os bufões de santa maria, rindo entre si, escarnecendo dos demais, convocando por via de danças e cânticos endemoninhados, subtis, um coro, um magnífico coro de deformidades... Os médicos largaram as urgências e lançaram-se no seu encalço. «Cubram esses seres abjectos!», gritavam, uns para os outros; «Deixem-nos falar!», pediam os doentes, erguendo-se das macas, «Queremos ouvi-los!», exigiam, reanimados pela intrépida febre dos bufões em desfile. À sua passagem reverberava o caos; dançavam as macas, as máquinas e os suportes intravenosos, vomitavam-se os armários e as prateleiras, planavam as roupas de cama, desaparecia o jantar nos tabuleiros... Os seguranças cuspiam

Voltare

Aquela noite transpirava desejo e não, não era um eléctrico. Eram dois riscos pedalando a lua sob a floresta. Eram duas mãos refulgindo ao contraluz das acesas núvens. Era uma respiração, uma vontade, uma placagem iminente. Um verão azul a desaguar na pele, E marés a clamar urgência, Entretecendo espirais de afecto Nas torrentes do desejo. Lá estava Voltare, pela segunda vez, na estepe oculta do leão, Pretendendo rasgar aquela noite Sem, contudo, ousar um único rugido.