registo científico de um ensaio

Salto para o teu colo! Ou agarro-te eu ao colo. Há uma breve troca de olhares, pelos cantos seguimos os demais, «onde está o gato?», claro que ninguém quer ser apanhado, mas se o dia foi puxado talvez desista a sorrir e me deixe apanhar, só para que me belisques com força e eu acorde neste aqui.

Na roda das torções, reflicto em como os carrascos devem ter estudado tudo isto, na concepção dos seus engenhos de tortura por desmembramento. Comovemo-nos com um abnegado estudo de um qualquer processo, sem todavia conhecer o intuito que move o seu sujeito.

E o corpo ondula já, em natural e inversa; para arrancar movimento às faiscantes sinapses (e acender a sapiência física presa no bloco cerebral) convocara as minhas secretas mnemónicas, respectivamente, «queda no abismo» e «caganita de pássaro»; a coisa pega logo e eu rejubilo por conhecer minimamente o meu quinto império (a minha quinta parte física que se localiza do pescoço para cima) e conseguir truqueá-lo...

O corpo festeja a massagem gravítica da natural e inversa, ondulações que na Lua não teriam a mínima piada (isto foi o bloco cerebral), teriam toda a sua piada; olha, estou a ondular na lua!... - isto no quinto império, que nos outros quatro quintos amargo abdominais, flexões e outras posições que me varam os glúteos e já se foi a lua que «não consigo», «não consigo», «consigo pois», «ora pois que consigo»...

Os relógios assíncronos demoram a desassincronizar-se; é que os braços não se convencem a rodar um para cada lado e o esquerdo ao dobro da velocidade do direito: mas porque será? Uma coisa tão fácil! E todos em fila e tudo, dá para ver o colega e imitar, qual imitar, qual carapuça, respirar! a questão é respirar! respiro as costas do colega da frente como se mais mundo não houvesse durante um tempo que não meço até pousar no sorriso da Catarina, «ok, ok, tá bom...»; às vezes não gosto dela, porque quando a coisa está boa mudamos logo para outra, conheço-lhe o subtexto, «então se gostas fazes lá em casa, ok, que aqui estamos a trabalhar e há um mundo de lugares ainda por visitar, tá?». Pois tem toda a razão, não obstante... Shrumpf!!!!

Revisitamos «a travessia bufonesca do arco íris», que me corre menos bem porque faço caretas a cada pausa como se dissesse, a mim mesma e aos outros: «olha eu aqui tão engraçada!» e isso, sei eu já de cor, tira à coisa toda a possível graça, pois chega ao receptor como um «olha esta a achar que tem piada e eu a ficar sem piada nenhuma para achar». Pois tem toda a razão, que o teatro é comunicação e ao emissor cabe emitir e ao receptor receber.. e MAI NADA!...

Na pausa comemos as ameixas da Cláudia que vêem de Aveiro e as raivas do Paulo que também vêem de Aveiro e as coisas da máquina do IMM que não sabem tão bem, à excepção talvez dos dois donuts da Margarida que nunca iremos saber pois que ela está cheia de fome e não oferece a ninguém «ah, é que são só dois...» e risada geral. A Salomé anda para a frente e para trás no conto do «Nascimento do Homem» e o Paulo corrige-a com toda a legitimidade porque ela riscou o disco no «Big-Bang-Bum!», «Big-Bang-Bum!», «Big-Bang-Bum!» e lá se vai a pausa.

«Big-Bang-Bum!» - agora a sério - o Nascimento do Homem é uma coisa impressionante e como os cientistas sabem disto! «Big-Bang-Bum!», universos, estrelas, sóis, mundo, água, unicelular, multicelular, peixes, répteis, símios, polegar oponível, homo-erectus e já está! O Paulo exibe um sorriso triunfante de «Deus Ex Bum!» coroado pelas circunstâncias: (1) é o único homem neste ensaio; (2) é a pessoa mais alta deste ensaio; e (3) trouxe raivas de Aveiro... As mulheres símias engolem as raivas e repetimos tudo uma, duas, três, quatro, cinco vezes para aprender a juntar células em organismos multicelulares, abanar caudas de peixes e mostrar-lhe o olho grande, rastejar de boca em "o"com braços de língua alheia sem levar socos, andar a quatro patas como verdadeiros símios e daí a duas para o erectus... e voar como pássaros! São tantos os truques de "justeza eficiente" neste teatro do movimento (e tão aliciante a sua descoberta) que apenas findo o ensaio nos achamos exaustos. Arrastamos os nossos corpos para casa, de olhos a meia-haste, enquanto o bloco cerebral apela às cientividências de que ainda somos gente com família, água para banho e cama para sono.

Tenho a certeza que o corpo sovado de amanhã agradecerá ao forte bombear do coração de agora. O quinto império rasteja ainda (é tão teimoso, este gajo!) para o primeiro alinhamento do programa da Noite dos Investigadores: deambulatório de bufões pela tarde pais&filhos, Big-Bang-Bum! ao pôr do sol (entre escorrupichos de cola-cola por uma assistência a que ainda não adivinho contornos, apenas que eventualmente escorrupichará cola-cola), 90 minutos de cientistas ao fórum (chiça!) conflituando o anfiteatro ao ar livre da bela Gulbenkian, teatro do movimento no hiato da transição das estrelas de Galileu e mais 60 minutos de cientistas de pé fechando a noite a banhos de cola-colas...

O meu quinto império sorri evocando a lua cravada de peixes que se arrastam de quatro a jogar playstation e saltam para o colo vermelho do olho que ondula uma caganita de abismo... Até que finalmente sorri: «ok, ok, tá bom...» (e tá bom mesmo!...)

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