Regresso à urbe
a urbe buzina, zunzina, antecipando o frémito retorno dos seus protagonistas. o calor denso e húmido dos dias contrácteis recebe os ainda histéricos veraneantes, lentamente apaziguados no porvir das fachadas históricas, das portas conhecidas, das casas reencontradas. há um sorriso ameno, que em nada queima ou gela, que os percorre no exacto momento de poisar as malas. a casa está diferente, qualquer coisa nas dimensões, nos cheiros, nas cores... tais percepções logo se dissipam no rehabitar do estore corrido, da janela aberta, da série de telefonemas «cheguei!». onde chegámos? de onde viémos? que viagem foi essa? mudámos, realmente, em qualquer coisa? abrimo-nos, na verdade, a quê? essa saudade antecipada nos recontares, nas fotografias, nos posts facebookianos, chegará a ter sido por algo veramente acontecido? o chão está cheio de pó e a gata, quase dócil, queixuma a sua solidão ronronando pelas encostas do sofá. no tecto arriscam-se grossas teias de ousadas aranhas desfilando intrépi