heaven on earth
as rochas suam, devagar e brilhantes, uma água puríssima que mais não faz que tomar sulcos antigos. no seu caminho, brotam todas as vagens, sementes, raízes; estendem-se todos os troncos; desvelam-se todas as folhas e flores e frutos. a montanha exibe mil relevos à silhueta, que a todo o tempo se metamorfoseia num morno compasso, do sol nascer ao sol pôr. os animais cumprem seus rituais com vagar e distância. e o animal homem avança, descalça-se, despe-se, mergulha na água puríssima, estende-se numa rocha nua ao sol, afasta suavemente do peito uma folha caída da brisa ténue, fecha as pálpebras e ouve o rulhar da cascata, o resfolegar do cavalo, o zumbir do zangão, ouve o sopro tranquilo do próprio sono, a modorna que o embala. a natureza acaricia o animal homem. ele come bem, dorme bem, acorda bem, fala pausadamente, pensa pouco, sorri muito. e sobretudo deseja. o animal homem deseja. o desejo entra-lhe por todos os poros e sai-lhe por outros que ele próprio desconhecia. tomar suavemente, demoradamente, o corpo amado e ser por ele tomado, de carícias, de beijos, de toques e apertos, mordidelas e lambidelas; é isso que procura, que encontra, acima de tudo, naquele lugar: uma invulgar predisposição para amar e ser feliz.
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