Regresso à urbe
a urbe buzina, zunzina, antecipando o frémito retorno dos seus protagonistas.
o calor denso e húmido dos dias contrácteis recebe os ainda histéricos veraneantes,
lentamente apaziguados no porvir das fachadas históricas, das portas conhecidas, das casas reencontradas.
há um sorriso ameno, que em nada queima ou gela, que os percorre no exacto momento de poisar as malas.
a casa está diferente, qualquer coisa nas dimensões, nos cheiros, nas cores...
tais percepções logo se dissipam no rehabitar do estore corrido, da janela aberta, da série de telefonemas «cheguei!».
onde chegámos? de onde viémos? que viagem foi essa?
mudámos, realmente, em qualquer coisa?
abrimo-nos, na verdade, a quê?
essa saudade antecipada nos recontares, nas fotografias, nos posts facebookianos, chegará a ter sido por algo veramente acontecido?
o chão está cheio de pó e a gata, quase dócil, queixuma a sua solidão ronronando pelas encostas do sofá.
no tecto arriscam-se grossas teias de ousadas aranhas desfilando intrépidas por novo território.
o correio amontoado promete nem uma linha de suspiro, sonho ou tragédia.
a lista de afazeres amarelou, grelou, como as batatas biológicas no cesto de vime.
os veraneantes lavam as suas roupas, arrumam as suas malas, actualizam as suas listas de afazeres, afastando para longe os lugares mágicos filmes que se vão miraginando, pueris.
o silêncio breve dos milhares de possibilidades do momento seguinte afunda os já bem menos histéricos veraneantes numa profunda, melancólica, apatia;
e a urbe buzina, zunzina, liquidando-os num mosto que os cimentola na urbe.
é hora de um banho, roupa lisa, perfume, jornal, net, info, info, supermercatizar entremeando cacofonia teleléfona com distraídos relances à estrada piiiiiiiiiiiiiiiiii.
e um sorriso irrepreensível flutua nos lábios dos urbanitas: é que sabe tão bem sentir o manto da cidade descendo devagar com todas as suas flutes previsíveis, nem meio cheias, nem meio vazias, nem muito boas, nem muito más, apenas ambíguas o suficiente para delas podermos beber, ou através delas apenas olhar...
o calor denso e húmido dos dias contrácteis recebe os ainda histéricos veraneantes,
lentamente apaziguados no porvir das fachadas históricas, das portas conhecidas, das casas reencontradas.
há um sorriso ameno, que em nada queima ou gela, que os percorre no exacto momento de poisar as malas.
a casa está diferente, qualquer coisa nas dimensões, nos cheiros, nas cores...
tais percepções logo se dissipam no rehabitar do estore corrido, da janela aberta, da série de telefonemas «cheguei!».
onde chegámos? de onde viémos? que viagem foi essa?
mudámos, realmente, em qualquer coisa?
abrimo-nos, na verdade, a quê?
essa saudade antecipada nos recontares, nas fotografias, nos posts facebookianos, chegará a ter sido por algo veramente acontecido?
o chão está cheio de pó e a gata, quase dócil, queixuma a sua solidão ronronando pelas encostas do sofá.
no tecto arriscam-se grossas teias de ousadas aranhas desfilando intrépidas por novo território.
o correio amontoado promete nem uma linha de suspiro, sonho ou tragédia.
a lista de afazeres amarelou, grelou, como as batatas biológicas no cesto de vime.
os veraneantes lavam as suas roupas, arrumam as suas malas, actualizam as suas listas de afazeres, afastando para longe os lugares mágicos filmes que se vão miraginando, pueris.
o silêncio breve dos milhares de possibilidades do momento seguinte afunda os já bem menos histéricos veraneantes numa profunda, melancólica, apatia;
e a urbe buzina, zunzina, liquidando-os num mosto que os cimentola na urbe.
é hora de um banho, roupa lisa, perfume, jornal, net, info, info, supermercatizar entremeando cacofonia teleléfona com distraídos relances à estrada piiiiiiiiiiiiiiiiii.
e um sorriso irrepreensível flutua nos lábios dos urbanitas: é que sabe tão bem sentir o manto da cidade descendo devagar com todas as suas flutes previsíveis, nem meio cheias, nem meio vazias, nem muito boas, nem muito más, apenas ambíguas o suficiente para delas podermos beber, ou através delas apenas olhar...
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