olha para mim

olha para mim
eu que não digo nada
que espero a curva da estrada
que me detenho
porque te amo

olha para mim
lê no meu silêncio
o mar que me bate no peito
e a inquietude em que fico
até ao desfazer da espuma

olha para mim
sem gritos, sem loucura
que já é tanta a desmesura
deste amor que se lança a direito
contra o dique da cidade

olha para mim
e sente este meu por dentro
que te procura a medo
entre lágrimas macias
e gestos suspensos

olha para mim
e diz-me que sabes
da eternidade num passo
ou desta efémera a luz
que nos desfia os dias

olha para mim
e dá-me a tua mão
e deixa-nos ficar assim
a embalar em silêncio
este tempo de aprender
a chegar de mansinho.

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