bios #4_o João
...estou no sétimo ano, a caminho da escola, numa manhã de Inverno. O que mais aquece a dura caminhada, feita ainda escuro e sob um vento gélido, é a probabilidade de me cruzar com ele à entrada do edifício e sem poder evitar olhá-lo nos olhos dizer: «bom dia!». Como estará vestido? Que missivas estarão hoje inscritas no brilho dos seus olhos? Que circunstâncias nos poderão hoje aproximar além do normal? As perguntas, em torrente, animam curtas-metragens ficcionais que fazem as minhas delícias, pois aquecem (ou pelo menos esquecem) o frio no nariz e o tempo do caminho: ficar atrás dele na fila do bar; ao seu lado na mesa da cantina, juntos em algum trabalho de grupo ou equipa de jogo… Se é dia de aula de ciências da natureza, há um pico explosivo de expectativa: é que nessa aula em particular partilhamos a mesma carteira! Entro na sala de aula, sento-me na minha carteira, fila do meio, a meio da sala; o professor faz uma pergunta e ele responde; todos se voltam para o ouvir, na carteira do canto da última fila, e ele cora, cora como um tomate, e fica lindo, assim exposto na sua timidez…
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