Mareados
O mar levou os teus olhos - e o meu amor por ti, que despontava ainda, semente ainda, ficou sendo batido na maré baixa, escorrido na maré vaza, dissolvido em bolhas, na espuma da areia.
«Um homem sem olhos a mim não me serve», pensei, realizando a pura beleza daquele sol pôr, riscado pelas curvas do vento que em sopros o cortinavam até ao dia seguinte, e que juntos já não poderíamos apreciar...
Desprezei então, profundamente, a tua decisão em abdicar dos olhos, para ver melhor, mergulhar no mar, para nele os perder, como se a decisão não fosse tua, tu apenas vítima desse inescapável gigante a cujo apelo te entregavas, exangue de ser dono da própria vida, tomar decisões, colher consequências.
Já era noite, quando arranquei, e tu ao meu lado, gritando de dor, que o sal te ardia nas órbitas roxas, e eu, furiosa, sem saber para onde ir, «vou-te mostrar uma praia magnífica!», disseras, naquela tarde amena, «olha que eu não sei voltar», retorquira eu, em deliciada antecipação desse desconhecido, enquanto o jipe avançava aos sopetões pelas dunas...
«Um homem sem olhos a mim não me serve», pensei, realizando a pura beleza daquele sol pôr, riscado pelas curvas do vento que em sopros o cortinavam até ao dia seguinte, e que juntos já não poderíamos apreciar...
Desprezei então, profundamente, a tua decisão em abdicar dos olhos, para ver melhor, mergulhar no mar, para nele os perder, como se a decisão não fosse tua, tu apenas vítima desse inescapável gigante a cujo apelo te entregavas, exangue de ser dono da própria vida, tomar decisões, colher consequências.
Já era noite, quando arranquei, e tu ao meu lado, gritando de dor, que o sal te ardia nas órbitas roxas, e eu, furiosa, sem saber para onde ir, «vou-te mostrar uma praia magnífica!», disseras, naquela tarde amena, «olha que eu não sei voltar», retorquira eu, em deliciada antecipação desse desconhecido, enquanto o jipe avançava aos sopetões pelas dunas...
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