história da princesa desmaiada

(Para a Princesa Mariana, de quem tenho o privilégio de ser amiga)

era uma vez uma princesa,
muito jovem, muito bela,
que vivia num reino distante,
em que todos gostavam dela.

mal acordava e descia,
correndo a beijar seus pais,
estes, logo, embevecia,
por seu gracioso sorriso,
e gestos angelicais.

percorria os corredores,
com tamanha alegria,
que o castelo se agitava,
e ninguém, por mais triste, escapava
à sua vibrante energia.

e pedreiros, sapateiros,
lavadeiras, costureiras,
camponeses, mercadores,
novos, velhos, estrangeiros,
gente pobre ou de dinheiros,
enfermos e curandeiros,
nobres, sábios e vilões,
todos, sem haver excepções,
ao vê-la se precipitavam,
e logo uma fila formavam,
cumprimentando a princesa.

e ela a todos respondia,
com tal graça e doçura,
que em cada rosto acendia
um sorriso de alegre ternura.

ora era, porém, a princesa,
demasiado sensível,
e em face de um problema,
uma dor ou aflição,
por demais se comovia
o seu frágil coração:
das faces, o rubor perdia,
e... desmaiava no chão!

fosse o choro de um bebé,
ou trovões na noite escura,
a ferida de um soldado,
o simples secar da verdura,
tudo muito a impressionava,
seu coração disparava,
e a princesa logo tombava!

cuidavam, os reis, seus pais,
de ordenar a toda a gente,
que andasse sempre feliz,
alegre e sorridente.
que dela escondessem dores,
tristezas e amarguras,
e no mais que houvesse, cuidassem,
para agir com mil mesuras.
pediam, ainda, aos deuses
dos céus, da terra, do mar,
muita sorte e protecção
e toda a espécie de bênçãos
que os pudesse ajudar.

mas por mais esforços e preces,
algo sempre acontecia
que emocionava a princesa
a pontos que... desfalecia!

ora vendo tudo isto
um jovem rapaz, pescador,
teve uma ideia brilhante!
correu ao castelo do rei,
que o atendeu num instante!
«senhor, sei cá de uma coisa,
que penso, vai resultar,
e se curar a princesa,
quero com ela casar.»
«pedis alto vosso preço,
não me agrada concordar...
que dizeis, senhora, rainha?»
«Digo sim, sem hesitar!»

foi a princesa ao porto,
pela mão do pescador.
entraram ambos no barco,
que era frágil, pequeno e sem cor.
todo o reino assistia
fulminado por um raio:
e se o mar, de perigos mil,
leva a princesa ao desmaio?

mas ela estava tranquila,
não se sabe bem porquê...
olhava o jovem de frente,
e no seu, o olhar perdia,
céu e mar se misturavam
num azul que derretia.
íam longe, mal se viam,
quando a embarcação parou,
recolheu ele os remos
e mais intenso a fitou.

disse «vem!» e mergulhou
no mar azul de veludo
e a princesa teve um choque
ao sentir que parou tudo.
nem um som, nem uma imagem,
nem um cheiro, uma aragem,
um pensamento sequer,
qual suspensa marioneta
a quem cortam, num golpe, os fios
tombou a princesa no mar,
no mar que logo a engoliu.

sentiu uma mão firme,
guiá-la naquela água,
abriu os olhos e viu,
um castelo de corália.
os torreões eram feitos
de corais de filigrana
e nas paredes luziam
pérolas de ostra branca.
ao redor árvores se erguiam
feitas de algas enlaçadas
em cujas fendas surgiam
mil peixes de cores engraçadas.

a princesa, emocionada,
com tudo aquilo que via,
sentia uma doce calma,
que mais e mais a envolvia.
fundiam-se, transparentes,
os olhos do pescador,
naquele mar tão antigo
como na vida é o amor.

sem dizer uma palavra,
tornaram ao barco, ao porto,
onde todos aguardavam,
num silêncio suspenso e absorto.
sorriu, por fim, a princesa,
correndo a abraçar seus pais,
e entre lágrimas, lhes disse:
«não desmaiarei mais!»
sentia o coração bater,
com uma força inusitada:
a calma do amar curara
a princesa desmaiada.

percorreu o reino um «viva!»
cujo eco ainda se ouve.
houve festa, casamento,
muitas bênçãos e alegrias.
a princesa e o pescador
foram muito, muito felizes!
caminharam sobre a terra,
mergulharam no mar profundo,
juntos mil coisas fizeram,
juntos até ao fim do mundo.

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