amar a cidade
já não estou zangada com a cidade. já não me custam os seus resfolegares descompassados. já falta pouco. e eu respiro bem, aqui. todos os dias, perco e reencontro a minha liberdade. surpreendo-me. o acaso é o bálsamo de todas as inquietações. quando aprendemos a fluir nas entrelinhas do vai-vem da cidade, ela abre-se a nós. já falta pouco e eu já não estou inquieta. gosto-te tanto. uma nota a teimar um certo tom na imensa partitura da vida. disseram-me que eu canto em dó como a Amália. quando cantar a próxima "saudade", lembrar-me-ei de ti. que desconcerto poderia ser toda esta calma, não fora a minha placidez no vagar das horas. são aqueles sorrisos todos que há na cidade, ao virar de cada esquina, os abraços apertados, os risos, as pequenas conquistas, novos espaços, novos amigos, essa é a grande beleza da cidade. da minha cidade, pelo menos. da cidade como eu a vejo. tu estás na minha cidade, embora nem sempre te encontre. o mapa velho e desbotado não ajuda. mas curiosamente, quando menos se espera, tu apareces. já falta pouco. não quero ver-te partir, não quero saber quando chegas, prefiro pensar que estás retido, por tempo indeterminado, num acaso bom, roteiro de gentes e lugares que deslaçam dores antigas e abrem caminhos de amor. quem volta, é porque ama a sua cidade.
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