censurado
eu estava assim, sem mais nada nem porquê, quando de repente: pimba! levei uma paulada gigante, aqui, mesmo na cova do ladrão, onde se alojam piolhos, onde se coça o suor, aqui mesmo, uma paulada que nem lhe digo! fiquei a ver estrelas, mas estrelas, senhoras estrelas, grandes constelações, todas a andar à roda, todas a piscar-me o olho, a misturar-se, a rir à gargalhada. quis levantar-me, mas não consegui - é que não consegui mesmo! que paulada, senhores, que grandessíssima paulada! arrastei-me uns metros, um sofrimento! comecei a rebolar, achei que seria mais fácil, e seria, se não viesse aquela rampa vertiginosa, eu podia lá saber que estava ali uma rampa daquelas! fui aos trombos, a rebolar, a rebolar, cada vez mais depressa, parecia que estava num pesadelo mau, uma pessoa quando vai a rebolar assim, são uns segundos, parece uma eternidade, e todo o corpo o que quer é parar, parar, percebe, mas àquela velocidade, só à força de um grande obstáculo. e foi o que aconteceu, fui embater na bota de um gigante - sim senhora, na bota de um gigante! ele agarrou-me pelos dedos, sacudiu-me e quando me queixei sorriu e vociferou qualquer coisa que me soube a alho, um horror, diria, mas aquilo devolveu-me os sentidos, a vida. pôs-me no bolso da camisa e continuou, eu tentei furar o tecido mas era áspero e grosso e os meus dedos estavam todos ensanguentados e doridos. tentei escalar o bolso, mas era muito alto e eu estava cansado, tão cansado e dorido, ai, só de me lembrar dá-me cá uma dor outra vez! então ele pousou-me numa rocha à beira de um riacho, vociferou qualquer coisa a saber a cebola e foi-se embora. o sítio era magnífico, parecia o paraíso na terra, um riacho transparente com diamantes no fundo - diamantes, é como lhe digo! - e à volta rochas e plantas, flores, pássaros e animais de todas as cores e feitios... e ao longe, o som de uma flauta que era uma beleza! eu entrei no riacho, lavei-me, sequei-me ao sol, e pus-me ao caminho, a ver se aparecia qualquer coisa de comer - com tudo aquilo, estava a morrer de fome! e foi quando você apareceu... diga lá, é para quê?... preencher o quê?... os censos ?! ora bolas, confesso que não me apetece nada, nada de nadinha mesmo... já estou a ver que foi você... pois, olhe, pago o meu preço, vá, dê-me lá outra paulada!...
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