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A mostrar mensagens de maio, 2011

há mais mar

há mais mar que aqui há mais mar que nós há tanto por aí mais que a dor, o encanto que esta vontade de ti há no mundo, tanto! e eu, sem me dar conta vagueio por aí pergunto por aí arrisco, salto, danço deixo-me ser um sorriso pelo mais, que é tanto! há uma ternura intensa pólen de mel em flor um sentido de pertença uma liberdade imensa tanta sentida entrega que tudo enche de cor. há uma dor que arrepia pelos destroços do sonho desfazendo a estrada que se prometia e sinto morrer lá atrás o amanhã que mais queria...

espero-te

agita-se a noite segredando longe esta ausência de ti. não há sentido quando vais. não há mais nada. o meu olhar espalha-se perdido sem âncora. não há cor, cheiro, textura, imagem, viagem, palavra, que se retenha em mim. o coração serpenteia os cantos às coisas. dou voltas exangues no cenário que nos conteve e que agora nada mais alcança senão disso um seco destile. procuro a tua mão por toda a parte. e estico a minha o mais que posso. e espero-te.

quase

olha que está quase quase quase... não voltes aqui não tornes a mim está quase quase quase... não te invoques assim não inventes um sim está quase quase quase... não te metas entre mim e mim está quase quase quase... não sorrias, não acertes não me ligues, não me esperes está quase quase quase... no fim.

abre

«abre» ficou escrito durante muito tempo em cima da mesa enquanto se riscava nas voltas do chão enquanto se suava contra as paredes enquanto se dissolvia entre os gritos e o silêncio... «abre» mantido sentido que ali jazia quase indiferente ao tempo quase intacto e demasiado demasiado rente a tudo.

nada previa

e foi assim do género "tinha uma granada no quarto e resolvi tirar-lhe a cavilha..." nunca pensei!... (ele há coisas e momentos na vida de uma pessoa em que fica tudo muito estranho, muito diferente, muito vertiginoso... muito bom!) nada previa, eu não previa, ninguém podia adivinhar que aquela granada me fosse matar! primeiro era uma enorme curiosidade depois uma brincadeira aos poucos foi ficando sério importante urgente desmedido foram saindo coisas, muitas coisas enquanto a granada estremecia e com ela o chão, o céu, o mar... nada previa, eu não previa, ninguém podia adivinhar que aquela granada me fosse matar! o quarto ficou às avessas a ordem ariana das coisas, despojada a luz entrou e cegou cada sombra ao redor uma névoa indistinta e marcada aquele caos, aquela explosão, fez-me renascer na minha imensidão. nada previa, eu não previa, ninguém podia adivinhar que aquela granada me fosse matar! uma pequena bola inflamando energia que est

âmago

encontro-te inesperadamente no âmago da minha existência e fazes-me tanto sentido que sem ti já se me afigura a vida impossível de ser verdadeiramente vivida... tirando isso, o facto é que o mundo continua a girar e tudo permanece no seu exacto lugar...

Hoje

hoje fui ver um teatro fiquei-me lá embevecida presa pelo beicinho das histórias recuei as rugas do meu cicerone para aí uns 40 anos e mais que tudo me cativaram as sinopses em courier à unha, vulgos dactilografadas numa máquina de escrever a sério! e as fotografias dos "grandes actores" (cumpriu-me o comentário: "são as nossas referências, que estruturam a nossa identidade, é bom homenageá-las e se for em vida tanto melhor...") e toda a panóplia cénica e técnica para 50 lugares que só se ocupam aos sábados - e quando não há paragonas de monta na vila... hoje fiz a primeira prova de um vestido que de tanto dourado me pareceu o sol - a ser usado "stage only", bem entendido. adoro as modistas e os seus alfinetes e linhas e tecidos e peças em construção e mãos sapientes rodando-nos a cintura, ao pano votando toda a doçura... hoje levei a minha avó comigo e parecíamos duas gaiatas felizes - mas meio assíncronas: onde eu ouvia suave melodia de violin

abraço-te

abraço-te com aquela força, sim! naquele sorriso, sim! quando o encontro, quando estou distraída... e o mundo é um lugar belo. abraço-te e reclamo esse lugar, onde habita uma certa paz, um certo silêncio e me comovo por dentro num subtil estremecimento de me achar viva, sim! as lágrimas silenciosas ainda são, nesse rio, brilhantes e molhadas... mas o teu abraço persiste e já não me sinto tão triste, convoco, até, o amanhã... como foi que aconteceu? vir esse abraço certeiro oferecer-se ligeiro no parto da minha dor... estranhamento? entendimento? no cume do meu cansaço poisa em flor o teu abraço.

a minha tristeza

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a minha tristeza não tem fundo e eu caio e caio e continuo a cair, muito só e muito triste e muitas lágrimas e o meu corpo treme e no seu tombar não há as mãos de quem para o agarrar. a minha tristeza não tem tecto e o vento fustiga sem tréguas a casa onde se abriga a felicidade, estalando os sorrisos, soterrando as doçuras e fazendo ruir a alegria. a minha tristeza não tem nome, razão, condição, é eterna e desmedida, infiltra-se por todo o lado e mata à passagem as incautas vontades de viver. a minha tristeza é uma ferida aberta que me sangra devagar... eu olho para dentro e tenho medo e não avanço e tudo escuro e fico à espera de ouvir soar: «vai acabar»...